Quando as pessoas dizem que a beleza interior é mais importante, é tudo balela (expressão mais antiga, mas enfim), sabemos que a "aparência" conta muito e quando dizem aparência externa, sabemos que na verdade querem dizer padrão.
Na história da humanidade já foi bonito ser gordo, magro, gordo de novo, muito branco, bronzeado, baixo, alto, cheia da curvas, musculosa, enfim, os padrões mudam e não devemos nos prender a eles, mas sim nos adaptar às exigências do mundo.
Com esta dúvida na cabeça, "como me adaptar às exigências" fica mais difícil fazer a transição, como as pessoas vão me ver? o que vão achar? vou parecer relaxada, desarrumada, vou perder o charme do cabelão liso, não serei eu! Sempre fui eu pelo cabelão (que eu comprei), ondulado, liso, cacheado, não importava, era "meu cabelão". Parecia Sansão, se "cortasse" meu cabelão perderia todo o meu poder. Nesta época, para mim, o Black Não era Power, não mesmo.
Mas algo mudou dentro de mim, é verdade, dentro de mim. Eu queria tanto não usar mais química, queria tanto poder passar as mãos no meu couro cabeludo sem os nós (os nós do alongamento), queria não precisar contar o tempo para o próximo dia de fazer o cabelo, queria liberdade, sem ficar me preocupando com o cabelo que caía e caía e caía no chuveiro quando eu lavava, que caía e caía e caía na pia quando eu penteava, eu sempre pensava "vou ficar careca, socorro!". Era uma fase muito ruim, mas esta fase durou mais de 5 anos! É, pois é, eu comecei a não ficar mais tão feliz com o relaxamento+alongamento (importante: eu alongava porque como meu cabelo é muito fino, quando relaxado murchava, ficava pouquinho, daí eu alongava pra dar mais volume e comprimento). Na verdade eu era uma pessoa conformada, pois achava que aquela era minha única solução. Não achava que tinha vida além da modificação da estrutura do meu cabelo e do alongamento com outro cabelo, o meu era tão fino, tão ressecado, tão volumoso. O que que eu ia fazer, só relaxar e alongar mesmo.
Eu ainda não conhecia mulheres que soubessem cuidar do black, como moro em Salvador há cerca de uma ano, vi muitas meninas com black, mas nada que me chamasse a atenção, nada que me estimulasse a seguir esta realidade, ninguém perto de mim. Na verdade na minha realidade só vejo gente desesperada pra não ter frizz, louca pra relaxar e passar a chapinha porque a raiz já estava gritando, precisando de uma folga pra fazer o alongamento, enfim, a mesma realidade que eu já vivia, então pensei, é assim mesmo!
Vejo muito exagero desnecessário, uns visuais que não gosto e que não seriam o adequados para o meu trabalho, sou comerciária de uma empresa tradicional, não ia dar certo black power e eu nem gostava. Eu me sentia amarrada!Estou falando bastante sobre este sentimento, sobre este período porque não foi o externo que me fez mudar, a mudança veio de dentro pra fora, a mesma sensação que me mantinha presa aos processos químicos é que está me salvando deles.
Quando o salão BLZ Natural abriu aqui em Salvador, claro, fui lá ver, nem sabia andar por aquelas bandas da cidade, paguei uma grana de taxi pra chegar lá e depois quase me perdi na volta de ònibus, enfim, estava eu no salão e a menina me disse que eu precisaria cortar toda a química pra iniciar o processo com o produto (OK) e que eu teria que fazer a manutenção em casa, com todos os produtos da linha (OK), elam também me disse: seu cabelo está do tamanho do meu! Aí eu pensei, não quero agora meu cabelo igual ao seu, grudadinho na cabeça e sem confirmação de ficar bonito no futuro, eu quero um cabelo igual da fundadora do salão (Oh Criança, a vida não é assim, hellooo!) e na verdade a prisão seria a mesma: aplicação, adaptação, vários produtos pra manutenção e reaplicação, re-relaxamento todo o mês. Eu queria uma liberdade que eles também não poderiam me dar. Mais uma vez, voltei aos meus alongamentos. Eu ficava muito linda, quando cuidava das ondas, fazia hidratação e enrolava em casa mesmo, era imbatível, todo mundo olhava. Mas eu queria mais, queria a verdade que esse cabelo não me dava.
Há menos de 1 mês atrás, comecei a pesquisar na internet cabelo afro - cabelo alongado - cabelo ruim - cabelo bom e me deparei com o blog "cabelo crespo é bom" da Mariangela Miguel, foi o primeiro que vi, li, reli. Não tem vídeos, mas pouco importa, o que valeu foram os relatos, os comentários e as dicas a que eu tive acesso, isso não tem preço. Depois deste me deparei com vááááários vídeos internacionais (americanos na maioria) falando sobre o big chop, sobre as mudanças e transições. Lendo dá vontade logo de fazer a coisa acontecer! Eu precisava mesmo disso.
Estava só com dificuldades de ver informações em português, mas daí encontrei a Fabiana no "
beleza de preta" (maravilhosa!) que me levou à Rosangela do "
negra rosa rosa negra" (completa e muito cool) e daí a Priscila do "
Respeite o meu Pixaim" que me levou a Isadora do "
Isafolô" e tantas outras que falam de tantos assuntos. Obrigada a vocês por me inspirarem, me darem confiança e saberem transmitir o sentimento de liberdade que eu tanto procurava.
É, foi
de dentro pra fora, A mudança, A transição, A volta ao natural,
O "back to black"!